quinta-feira, 15 de abril de 2010

Um pedaço…




Entro na carruagem fria e escura pelo meio da noite onde o céu estrelado me deixa para trás a imagem de uma cidade cinzenta. Ali mesmo ao meu lado um aquecedor que pela etiqueta já teve dias melhores por onde sai umas golfadas de ar, com o andar do comboio se entranha pela carne e se aloja nos ossos.
O relógio pendurado do outro lado dos carris marca meia-noite e trinta nem mais um minuto.
Um apito agudo percorre os meus tímpanos e dá-me a única alegria do dia, estou a viajar novamente o que sempre me deu grande prazer.
Seria uma noite como tantas outras nos corredores do “Expresso da Meia Noite” como era conhecida nesse tempo.
Há muito que o Inverno tinha passado mas teimava em aquecer estes lugares onde gentes se amontoavam pelos corredores na esperança de tempos melhores.
O início da viagem pelos campos de laranjeiras já despidas delas com as suas folhas meio amareladas e na mente outros mais verdes lá para os lados de Jaén. Entravamos no coração da Andaluzia e fermentava a revolta “Golpe de Estado na Espanha em 1981” comandado pelo tenente-coronel Antonio Tejero.
Foi bonito de se ver pelas ruas, tanques, Guarda Civil e todos os militares chamados aos quartéis, a estação estava a pinha e em meu redor pessoas civis como eu, escutando o rádio com o que se estava a passar, afinal não era um filme que estava a ser rodado mas sim o referido atentado.
Na busca de trabalho nessa época apanha da azeitona, logo o desejo de viajar me encheu novamente o peito e lá fui eu num desses comboios carregado de militares que se dirigiam para Norte de Espanha onde se encontram alguns dos mais importantes quartéis militares. Ai estava eu no meio do verde predominante ouvindo histórias de caserna e alguns rostos apreensivos sem saber para o que iam.
Foram longas as horas de travessia desde o mediterrâneo ao mar do norte. Mas na desconfianças de uns nas gabarolices de outros lá se foi passando o tempo, farto de comboio resolvo sair antes da última paragem e fico-me por Lugo. Rebusco os meus apontamentos e verifico que tinha amigos por ali perto.
Será uma outra viagem, porque foram trinta dias de uma vivência sem precedentes na minha passagem pela Galiza.
…/…

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