terça-feira, 20 de abril de 2010

Baldios


Verdilhão

Terra de ninguém por onde andei na minha infância de armadilhas ao penduram na cinta franzida dos meus treze anos mal feitos.
Esperava pela madrugada pelo assobio da “coruja” sinal que o Zé o meu vizinho que mais tarde veio encontrar-se novamente comigo na vida profissional, me esperava para então deitarmo-nos ao caminho na busca dos baldios.
Como os quilómetros nesse tempo eram curtos, lá para os lados de “França” aldeia escondida na serra de Montezinho, era o nosso destino. Aí pela encosta acima reinava a passarada de varias cores e tamanhos, queríamos os melros mas esses era de raça fina, ficavamos com os pardais, difíceis de apanhar com estas formiguinhas de asa a dar a dar.
Á chegada não havia tempo a perder porque estávamos longe de casa e teríamos de voltar antes que a nossa mãe desse pela nossa falta, o que sempre acontecia.
Sentados olhávamos em nosso redor a tirar a estratégica de ataque à passarada, escolhíamos as melhores posições enquanto numa azáfama colocávamos no fusivél a formiga de asa, excelente isco para passarada.
A grosso modo tínhamos cerca de dez dúzias de armadilhas, levantávamos ainda com um pedaço de pão mal comido e lá íamos colocar a nossa primeira. Sempre com a inclinação devida com a formiga solta das asas para que pudesse esvoaçar e assim com o reflexo do sol conseguir chamar atenção dos pardalinhos.
Com um “xacho” numa mão fazíamos uma pocinha inclinada onde era colocada a armadilha e assim sucessivamente de árvore em árvore percorríamos alguns quilómetros. No final da ronda só havia tempo de beber um pouco de água e dar mais uma dentada na sandes que tinha sobrado e recolher as armadilhas umas com a presa bem agarrada, outras sem nada.
Hora do regresso, lá no alto na varanda virada para serra, a minha mãe como eu a sentia a esta distância. Mas era o correr por gosto teria agora de suportar as mazelas do corpo com um sorriso.
Pendurados ao pescoço e todos entrelaçados uns nos outros pardais, melros, verdilhão, etc. Chegara a hora de os depenar tarefa que me irritava mas come-los com penas não dava jeito. Então no “borralho” da casa do Zé, com lenha e brasas qb. Assadinhos eram o nosso petisco depois de seis horas de caçada. Este ritual manteve-se durante muitos e bons anos, não havia Internet e as pessoas brincavam despreocupadas na rua.

Um comentário:

  1. ADOREI ESTE TEXTO, MUITO ESPONTÂNEO E REALISTA.
    PARABÉNS E UM BEIJINHO DA MÃE E AVÓ. M.I.

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