Um dia de Pesca/Alto Mar.
Toca o despertador, com a mão
esquerda ainda dormente dou-lhe um safanão, são quatro da manhã, a noite ainda
esta escura e o calor dentro de mantas quase que me faz desistir da viagem
ensonada para Peniche. Mas o prazer da pesca é maior que o sono que me domina,
pé ante pé lavo a cara e visto a roupa que no dia anterior tinha preparada em
cima da cadeira ali ao lado junto da televisão, retiro
do frigorífico que fica logo ali, por debaixo da televisão ao lado do
caixote do lixo e da secretaria do quarto, enfim tudo bem aconchegado num
quarto pequeno mais parece de fim de semana do que de semana.
Verifico os iscos que pernoitaram
dentro dos cinco graus, recolho a água fresca, fiambre, chouriço, queijo e uma
garrafa de vinho tinto que pelo grau me vai ajudar aquecer lá para hora de
almoço no mar alto. O material de pesca já se encontra no carro, devidamente
verificado no dia anterior não vá faltar alguma coisa e depois de entrar mar
dentro não há volta a dar. Faltam-me uma hora e meia de caminho até ao local da
lancha na marina de Peniche.
Ligo o carro e sintonizo a
rádio no 91.7 ouço as noticias das e fico atento ao estado do tempo facto muito
importante para quem se vai lançar mar a dentro numa casca de nós de nove
metros. Percorro sossegadamente a A8 despida de carros só as luzes da
publicidade ao longo da mesma me fazem companhia e de tempos a tempos um pesado
que leva a sua carga até a capital.
Entro na nova estrada e sinto
no ar o cheiro a mar, aproximo-me de Peniche e o pensamento é só no tempo dele
depende a nossa ida ao mar. Lá esta ela dormitando ainda com as amarras bem
presas, descarrego o carro e só de material vai para cima de vinte quilos
espero trazer muito mais. Fazem-se os cumprimentos habituais e esfumava-se um
cigarro quer dois. Chega o timoneiro “Sr Fernando” dono e capitão costa da
embarcação que nos vai levar então para lá das Berlengas. São sorteados os
lugares e depois começa o ritual da preparação das canas dos iscos e mais um
cigarro. Encostados uns nos outros e com histórias de mar lá vamos entrando
salto a salto pelo mar dentro deixando de se ver Peniche e a pedra
das Berlengas entrar pelos olhos dentro. Aproximo-me do “Capitão”
assim lhe chamava ao “Ti Fernando” como tem sido os dias de pesca antecedentes.
O que ele respondia – “Na última vez que saímos tivemos sorte encontramos bons
pesqueiros e a malta ficou toda contente com a faina realizada” como eu dizia
era sempre no dia anterior, por vezes até falava com os amigos vamos enganar o
“Ti Fernando” um dia destes nas datas e aparecemos um dia antes, já que nesse
dia há sempre muito peixe. Histórias do mar que o tempo leva. Aviso de que
estamos a chegar ao pesqueiro, eis que todos deixam as palavras para se
colocarem na posição de ataque ao peixe. Verifica-se por último a colocação dos
iscos cana na mão e esperamos a voz do “Capitão”: - Podem atirar. Já sabemos
pelas indicações que este pesqueiro tem setenta metros de profundidade existem
algumas rochas o que é bom e que o mar lá por baixo está revoltoso, o que
indica que o peixe anda a comer. O zunir dos carretos máquinas que
transporta cerca de 200 metros de fio, indica a descida vertiginosa dos pesos e
dos iscos até ao local do manjar.
Parou sinal que bateu no fundo, a técnica
aqui é pessoal por isso uns deixam no fundo, outros levantam ligeiramente
procurando a qualquer momento o picar do peixe. Aí está ele a primeira “ferradela”
pelo dobrar da cana sei que é um sargo peixe que buscamos
constantemente.
São 08h30 bom sinal para este dia que vai
ser longo, porque a largada será só pelas 16h30 e, entretanto, já se decidiu
que o almoço vai ser caldeirada de peixe. Aqui todos participam, com o peixe e
o ajudante do “Capitão” faz o almoço para que esteja pronto às 12h00 caso o
peixe nos deixe comer. As horas serão quase sempre iguais só modificando o
local de pesca caso não esteja a dar peixe, procura-se lugares melhores e num
passear por este mar, trocam-se gargalhadas e largam-se algumas cargas ao mar
para estômagos mais delicados. Paragem para almoço e a manhã tem sido
bem produtiva, a diversidade do peixe é do agrado de toda a gente. Agora uma
pausa curta para comer neste dançar do barco que vai exigir a todos atenção.
Trocam-se aperitivos e prova-se os vinhos tudo se faz rápido porque a nossa
vinda é pescar e não apanhar sol.
De tarde faz-se os meus rituais da manhã
agora um pouco mais relaxados porque o cansaço começa a notar-se.
Por fim desejamos chegar a terra.
Arrumam-se os aparelhos limpam-se as canas e guarda-se o peixe nas arcas depois
de bem lavados com água nova e cobertos de gelo fecham-se as arcas. Uma
cerveja, um pastel de bacalhau enfim momento de descontração e lá vamos nós
rumo novamente a Peniche. Agora é tempo de descanso e de dormitar, depois um
bom banho e dormir que o outro dia está para chegar.